O ChatGPT deixar redatores desempregados? O designer vai perder sua vaga pro Midjouney? Quem vai sofrer mais no mercado criativo com as Inteligências Artificiais?
Sim, a Inteligência Artificial provavelmente vai roubar o seu emprego na publicidade, pelo menos da forma que você o conhece hoje.
Mas, você não precisa ficar desesperado. Para não ficar desempregado você só vai precisar ser rápido e se adaptar um pouco.
Se você está começando na sua carreira na publicidade como designer ou redator publicitário, provavelmente levou um susto ao descobrir da noite para o dia a máquina se tornou capaz de fazer o seu trabalho, até melhor do que você faz.
Tecnologias disrruptivas já ameaçaram alguns empregos criativos, e não será esta a primeira vez que nós tivemos que nos adaptar nos últimos 30 anos.
O que vai ser do meu emprego?!
Será que eu vou perder o meu emprego? Meu cliente vai deixar e contratar uma IA para fazer o meu trabalho? Acabei de me formar em publicidade e minha profissão já vai ser extinta?
As perguntas são legítimas e a resposta é realmente preocupante. A partir 2023 descobrimos que as profissões criativas estão entre as mais ameaçadas pela Inteligência Artificial.
Ela vai abocanhar uma parte do bolo, e se você não agir rápido, corre o risco de não sobrar bolo nenhum pra você.
Para quem é mais jovem, esta é provavelmente primeira grande revolução no mercado criativo, que estavam brandas e sutis nos últimos 10 anos. Mas saiba que outras tecnologias disruptivas já afetaram a publicidade e também foram motivo de preocupação para inúmeros profissionais da área.
A seguir veja algumas tecnologias que modificaram completamente nosso mercado e nosso jeito de trabalhar e quais foram os resultados:
Câmeras Fotográficas Digitais
A introdução das câmeras digitais ocorreu no final dos anos 90, e mudou completamente o jeito de se trabalhar no mercado publicitário.
Em pouquíssimo tempo a fotografia passou a ser acessível e abundante, eliminou-se o filme fotográfico e a revelação, os scanners profissionais foram aposentados e os processos ganharam muita velocidade.
Conforme a tecnologia se popularizava, o custo das câmeras ficavam mais acessíveis e a qualidade cada vez melhor. Em pouco tempo as câmeras profissionais deixaram de ser exclusividade de estúdios caríssimos.
Dentro da própria agência era possível ter uma câmera dessas, e se você precisava de uma boa imagem para fazer um rascunho ou mesmo finalizar uma arte, o problema poderia ser resolvido rapidamente, sem precisar contratar um fotógrafo.
Os fotógrafos profissionais que atuavam na época primeiro desdenharam da qualidade das primeiras câmeras MAVICA da Sony, que produziam imagens que cabiam em um disquete 1.44MB.
Os mais espertos, migraram rapidamente, aprenderam novas técnicas e acompanharam a evolução da qualidade proporcionada pela foto digital. Outros fatores de diferenciação entraram em cena, como criatividade (ficou muito mais fácil experimentar novas técnicas), iluminação, pré produção, tratamento de imagens e pós produção.
O uso da fotografia na publicidade só aumentou, junto com o número de fotógrafos e pessoas envolvidas com fotografia. Nasceu uma gama enorme de novos produtos e empregos na área de fotografia.
Os profissionais mais lentos e presos ao processo analógico, ou ficaram obsoletos junto como a fotografia analógica e desapareceram, ou foram forçados a migrar com muito atraso a nova realidade, pois eles não conseguiam nem mais revelar suas imagens.
A própria Kodak, que na época era líder no mercado de filmes e insumos fotográficos, teve a oportunidade introduzir a no mercado a câmera digital não o fez, e virou um case de fracasso no mundo dos negócios, nos ensinando como não agir frente aos avanços tecnológicos.
Hoje, conseguimos uma foto de qualidade do nosso próprio celular.
Impressoras Digitais
A história da impressão digital começou no início dos anos 90 e é muito semelhante à da fotografia. A tecnologia nasce com uma qualidade inferior e custo elevado, direcionadas para pequenas tiragens, contra uma tecnologia analógica madura, como as offsets e impressoras rotativas, restritas a grandes consumidores e grandes tiragens.
Hoje, já existem impressoras digitais que oferecem impressos com diferença de qualidade praticamente imperceptível para baixas tiragens.
Outra mudança importante foi a possibilitada pelas tecnologia digital neste mercado foi a impressão em grandes formatos para impressão de banner e painéis.
Uma parte do mercado que antes concentrava seus esforços de marketing em impressos, folders, catálogos, malas diretas, reduziram drasticamente suas tiragens, adotando a impressão digital.
Como se não bastasse, as impressoras digitais “roubando” os trabalhos antes direcionados as gráficas convencionais, veio também a internet (que foi outra tecnologia disruptiva), abocanhando outra parte destes clientes.
O número de gráficas digitais já é muito superior ao de gráficas convencionais e emprega muito mais profissionais de design e publicidade que o convencional, atendendo muito mais clientes, com um portfólio mais diversificado e diferentes necessidades profissionais e pessoais de impressão.
O mercado impresso ainda está em evolução e a disrupção só não foi completa por que a indústria gráfica ainda apresenta vantagens de custos para grandes tiragens. Além disso, está ainda está conseguindo inovar, incorporando algumas tecnologias em seus equipamentos, mas é uma questão de tempo para o processo analógico se fundir ao digital.
Computador e Ferramentas de Editoração Eletrônica
Também em meados dos anos 90 no Brasil, a própria entrada do computador no mercado publicitário foi uma tecnologia disruptiva para sua época.
Antes da entrada dos computadores no mercado publicitário, toda peça publicitária era feita na prancheta de desenho manualmente, as vezes com auxílio das super avançadas máquinas de escrever IBM Composer, que era um uma máquina de escrever com memória, para gerar os textos, que eram recortados com tesoura e montados na arte final.
Com a entrada tardia destes equipamentos no Brasil, os primeiros a se beneficiarem profissionalmente foram as agências, gráficas e veículos de mídia.
Alguns desenhistas talentosos se recusaram a se adaptar a nova tecnologia e desaparecem em pouco tempo. Esta evolução acabou com algumas funções existentes, como o tipógrafo por exemplo.
Outros se adaptaram e adotaram a nova ferramenta para produzir melhor e mais rápido. Com a popularização dos equipamentos, uma plêiade de novos designers entraram no mercado mexendo exclusivamente nos softwares de editoração eletrônica como Corel, Photoshop e Illustrator.
Internet
Hoje, temos muito mais gente que nasceu com acesso a internet do que sem ela. Estas pessoas não tem ideia do quanto era difícil produzir qualquer coisa sem ela.
A internet foi a grande disrupção no mercado criativo.
Ao mesmo tempo que a internet dizimou o mercado de jornais e revistas impressos, criou tantos outros, como Blogs, Facebook, Instagram, Youtube, impulsionou inovações como os Smartphones, Tablets, Cloud Computing, que geraram tantos outros negócios no mundo.
E hoje, graças a essas tecnologias, todos nós podemos nos comunicar diretamente com os nossos consumidores.
Todas as empresas e pessoas são um veículo de mídia em potencial
O departamento de criação se democratizou e saiu das agências e jornais, migrando para dentro da empresa do cliente, que passou a necessitar de diferentes demandas que antes não precisava.
Com todos estes canais a disposição de todos, a necessidade de se comunicar e interagir com seus clientes só aumentou e a demanda por serviços de design e redação se infinita.
Hoje, existe uma falta de profissionais disponíveis no mercado para atender tanta demanda e todo dia aparece uma nova tecnologia e uma novidade que estica ainda mais essa corda. Por que seria diferente com a Inteligência Artificial?
Ficar parado não é uma opção
Os fatos citados anteriormente nos mostram que todas as evoluções anteriores ocorridas no mercado criativo roubaram empregos, mas no final beneficiaram o mercado.
Isto significa que podemos ficar otimistas quanto a Inteligência Artificial?
Talvez. Os acontecimentos tecnológicos dos últimos 30 anos nos dão algumas pistas do que fazer diante desta ameaça, que certamente vai exigir cuidados e algumas adaptações de quem deseja permanecer trabalhando neste mercado.
Por que a Inteligência Artificial seria um problema para o mercado publicitário?
Todo mundo já estava acostumado com a ideia da inteligência artificial conseguir nos dar algumas sugestões, gerar opções de títulos, corrigir um texto gramaticalmente, ou recortar e colorir uma foto com IA.
Isto já estava acontecendo há algum tempo.
Mas ao concatenar ideias complexas e criar ilustrações do nada, percebemos que já se trata de um outro nível de disrupção tecnológica.
Os fatores que assustaram especialistas e nós, profissionais do mercado de comunicação, foram a velocidade de implementação e o nível de qualidade logo nos primeiros estágios, invadindo logo de cara áreas que achávamos necessário um certo nível de criatividade.
A velocidade de adoção da ferramenta, sem a necessidade de adquirir novos equipamentos para utilização da ferramenta, não tem precedentes comparado a outras soluções tecnológicas. Ninguém sabe com exatidão como os profissionais serão impactados no curto prazo.
A qualidade também chamou a atenção. Mesmo engatinhando, as ferramentas já conseguem produzir textos excelentes e imagens impressionantes, melhor que muito profissional com anos de experiência.
Motivos de otimismo com a IA no mercado publicitário
Como pudemos ver nos casos citados de tecnologias que mudaram o nosso mercado, o que aconteceu de fato é que elas possibilitaram que pessoas e empresas tivessem acesso a ferramentas que nunca estariam disponíveis a elas se não por meio desta evolução tecnológica.
Quando não tínhamos a câmera digital algumas empresas não contratariam um fotógrafo por falta de recurso financeiro. Sem a impressão digital muitas empresas não imprimiam devido a necessidade de alta tiragem. Não se filmava um evento por que não existia um canal para distribuir o vídeo como um YouTube. Não contratavam um redator pra escrever um artigo de Blog por que o Google e a importância disso para o SEO não existia.
Hoje, muitas empresas vão gerar imagens com o Midjourney jamais teriam contratado um fotógrafo ou ilustrador para produzir algo pelos métodos convencionais.
O recurso ficou mais barato e acessível e, com a ferramenta disponível pra todo mundo, a competitividade vai aumentar e com isso o volume de trabalho. Vai ser necessário mais texto e mais criação para competir com os concorrentes, porque as ferramentas de IA também vão estar disponíveis para eles.
Outro fator que as pessoas se esquecem de analisar é que a inteligência artificial também está trazendo inovações para o mercado do cliente.
Ele vai ter que começar a se preocupar em como aplicar em seu próprio negócio para competir com seus concorrentes.
Um advogado não vai querer perder tempo em automatizar um texto que vai para o Instagram se ele tem que se preocupar em descobrir como usar a IA de forma eficiente para fazer petições e elaborar seus contratos.
E por fim, temos uma crise de falta de profissionais qualificados em diversas áreas da comunicação, e a nova tecnologia deve trazer algum alívio para estas áreas.
Um redator que conseguia produzir só 2 textos por dia, será capaz de produzir 10. O designer também vai ter um ganho exponencial em sua produtividade.
Pontos preocupantes
Profissionais iniciantes ou com pouca qualificação terão bastante dificuldade daqui pra frente.
Tarefas simples, mas importantes para o aprendizado, normalmente realizados por iniciantes e recém formados, deixarão de ser necessários.
Atividades que devem sofrer mudanças:
- Recorte e tratamento básico de imagens,
- Colorização de imagens
- Restauração de fotos
- Diagramação de artes finais simples
- Redação de artigos para SEO
- Revisão de texto
O novo profissional criativo
Se você é bom, provavelmente a IA vai se integrar ao seu trabalho no dia a dia e você vai se tornar muito mais eficiente ao realizar suas tarefas.
Uma tendência de trabalho que deve se concretizar são os operadores de IA, especialistas em fazer solicitações para a máquina com o objetivo de extrair o melhor resultado possível.
Minha recomendação para estes profissionais é estudar muito e aumentar o seu repertório de conhecimento em diversas áreas.
Aprenda desenho a mão, programação, psicologia, filosofia, desenvolvimento de aplicativos, softwares novos, animação, tocar um instrumento, ler poesia, qualquer coisa que desafie sua inteligência, aumente sua cultura e seu repertório cultural vão ajudar.
A Inteligência Artificial é incrível, mas quem comanda o que ela faz ainda é um ser humano, quanto melhor você conseguir pedir, melhor será o seu resultado. Para conseguir fazer isso, é imprescindível que você tenha um bom repertório cultural e facilidade com a linguagem.
De qualquer forma, tudo ainda é muito novo e incerto, mas de acordo com o que já aconteceu anteriormente seremos capazes de absorver esta nova evolução.
Se você achou que ia trabalhar menos com a Inteligência Artificial, você está redondamente enganado. Provavelmente vai trabalhar muito mais!